quinta-feira, 13 de maio de 2010

AS CHARGES COMO COMENTÁRIOS VISUAIS DA HISTÓRIA

A pedidos, os slides da aula sobre o humor gráfico brasileiro e a ditadura militar. Clique aqui para acessar o material.

terça-feira, 4 de maio de 2010

CRÔNICAS (em forma de listas)

A pedidos - Crônicas estruturadas como listas. Todas de Leon Eliachar.



A VERDADE É UMA SÓ: TODO MUNDO MENTE


O OTIMISTA: "Os últimos serão os primeiros".
O DELEGADO: "Tomaremos providências".
O CHEFE DE REPARTIÇÃO: "Um momento".
O DEVEDOR: "Amanhã, sem falta".
O SAPATEIRO: "Depois alarga no pé".
O ALFAIATE: "Depois de amanhã o terno fica pronto".
O MECÂNICO: "É o carburador".
O ANFITRIÃO: "Ainda é cedo".
O LOCUTOR DE TV: "E até a próxima semana, neste mesmo horário".
O ORADOR: "Apenas duas palavras".
O JOGADOR DE FUTEBOL: "Tudo faremos pela vitória".
O DENTISTA: "Não vai doer nada".
O INIMIGO DO MORTO: "Era um bom sujeito".
O NAMORADO: "Você foi a única mulher que eu realmente amei".
O NOIVO: "Casaremos o mais breve possível".
O RECÉM-CASADO: "Até que a morte nos separe".
A SOGRA: "Em briga de marido e mulher não me meto".
A TIA: "OS homens são todos iguais".
A AVÓ: "No meu tempo as coisas eram muito diferentes".
O DIVORCIADO: "Noutra que eu não caio".
O DESQUITADO: "O pior são os filhos".
A GESTANTE: "Nunca mais terei outro filho".
O BÊBEDO: "Sei perfeitamente o que estou dizendo".
O SUICIDA: "Perdoe o meu gesto".
O VICIADO: "Essa vai ser a última".
O CRÍTICO DE CINEMA: "Bom, no gênero".
O ALPINISTA: "Esta escalada é uma barbada".
O ANÚNCIO DE JORNAL: "Vendo por motivo de viagem".
O POBRE: "Se eu fosse milionário espalhava dinheiro todo mundo".
O QUITANDEIRO: "Pode levar em confiança que a laranja é doce".
O CANDIDATO: "Se eu for eleito endireito esta cidade".
A DESILUDIDA: "Não quero mais saber de homem".
O PRODUTOR DE CINEMA BRASILEIRO: "O que o público quer é isso mesmo".


TIPOS

Há dois tipos de bebidas: a que a gente traz pra casa e a que traz a gente.
Há dois tipos de discos: o que a gente só ouve de um lado e o que a gente só ouve do outro.
Há dois tipos de esposas: a que arruma a casa e a que se arruma.
Há dois tipos de restaurantes: o em que a gente come e depois vai deitar e o em que a gente come e deita lá mesmo.
Há dois tipos de políticos: o que é eleito e o que se elege.
Há dois tipos de fotografias: a que sai como a gente é e a que sai como a gente gostaria de ser.
Há dois tipos de gravatas: a que a gente compra e a que a gente ganha no aniversário.
Há dois tipos de bêbedos: o que vê dobrado e o que não vê nada.
Há dois tipos de conquistadores: o que namora e depois não casa e o que casa e depois namora.
Há dois tipos de cinzeiros: o que a gente apanha na casa dos outros e o que os outros apanham na casa da gente.
Há dois tipos de mulheres: a nossa e a dos outros.
Há dois tipos de televisão: a que a gente só vê e a que a gente só ouve.
Há dois tipos de filme brasileiro: o que acaba mal e o que mal acaba.


EPITÁFIOS


DE UM HUMORISTA: Aqui jaz uma gargalhada cercada de choro por todos os lados.
DE UM CHOFER DE PRAÇA: Sua única corrida sem cobrar a volta.
DE UM CAÇADOR: Foi o dia da caça.
DE UM MOCINHO DE CINEMA: Fora da tela bastou um tiro.
DE UM PREFEITO: Este foi o único buraco que ele não fez.
DE UM JOGADOR: Foi pegado com cinco ases na mão.
DE UM LOCUTOR: E agora passemos a outro programa.
DE UM TOUREIRO: O touro correu mais.
DE UM AÇOUGUEIRO: A carne é fraca.
DE UM COVEIRO: Chegou a minha vez.


CONHEÇA O SEU MARIDO

Nota: Se você responder SIM a todas estas perguntas, vá em frente, e boa sorte!

1 — Seu marido chega freqüentemente tarde para o jantar?
(SIM/NÃO) — Isso é normal: as estatísticas atestam que, em cada dez maridos, nove chegam tarde para o jantar e um não sai de casa.
2 — Seu marido reclama constantemente que a comida não tem sal?
(SIM/NÃO) — Antes mesmo de descobrir o sal, o homem descobriu o pretexto da comida salgada: o que ele quer é um motivo pra jantar fora. Diga que também vai, que ele nunca mais reclamará.
3 — Seu marido não nota nunca quando você muda de penteado?
(SIM/NÃO) — Experimente deixar o mesmo penteado dois dias seguidos: garanto que notará.
4 — Seu marido também implica com a linha saco?
(SIM/NÃO) — Por que você não tenta convencê-lo que está esperando um bebê? Se não está, é uma boa indireta.
5 — Seu marido não acha mais que você se parece com artista de cinema?
(SIM/NÃO) — Sinal que é delicado. Já imaginou se ele continua insistindo que você se parece com a Greta Garbo?

(N. do D. quando foi escrito esse livro Garbo estava viva e velha)

6 — Os negócios dele exigem realmente uma viagem por semana?
(SIM/NÃO) — Peça para acompanhá-lo, alegando que não suportaria mais essa separação. Resultado: ou você vai, ou ele fica, ou muda de negócio.
7 — Seu marido vive dizendo que você não o entende mais?
(SIM/NÃO) — Pois então tente entendê-lo, especialmente quando ele diz que você não o entende mais.
8 — Seu marido não reclama nunca do seu decote muito aberto?
(SIM/NÃO) — Passe a fechá-lo. É sempre bom ter algum motivo para contrariar o marido.
9 — Seu marido não se incomoda que você passe as noites jogando biriba?
(SIM/NÃO) — Então jogue pra perder: azar no jogo, sorte no amor (sabe lá?).
10 — Seu marido é a favor do divórcio?
(SIM/NÃO) — Não se preocupe: ele quer se convencer que, mesmo preso, pode sentir a sensação de ser um homem livre.
11 — Seu marido está sempre no café, quando você telefona para o escritório?
(SIM/NÃO) — Por que não tenta ligar pro café pra ver se dizem que ele está no escritório?
12 — Seu marido já comprou televisão pra você ficar em casa enquanto ele faz serão?
(SIM/NÃO) — Sinal que é um bom marido: vive preocupado com o seu bem-estar. Seu de quem? Ora, seu, seu mesmo. Ficou na mesma? Então azar o SEU, entendeu agora?
13 — Seu marido diz com freqüência que furou o pneu do carro?
(SIM/NÃO) — Primeiro que tudo, verifique se ele tem carro. Ah, não tem? Então a culpa é sua: quem mandou casar com um pedestre?

P.S. — Se você respondeu NÃO a uma só dessas perguntas, pode confessar: esse homem não é seu marido.


CONHEÇA A SUA MULHER

Nota: Assinale com um "x" a resposta SIM ou NÃO para cada pergunta, antes de ler o resultado. Depois confira: se não der certo, paciência — é que você conhece, melhor do que eu, a sua mulher.

1 — Sua mulher é desconfiada?
SIM — Isso é bom sinal. É melhor ser desconfiada do que ter certeza.
NÃO — Então é bom v. desconfiar.

2 — Sua mulher tem o hábito de repreendê-lo em público?
SIM — Isso é sintoma de que está querendo ficar em casa.
NÃO — Então por que v. não sai com ela?

3 — Sua mulher diz com freqüência que precisa ir ao dentista?
SIM — Sinal que é bem intencionada. Esta é a única maneira de levá-lo até lá.
NÃO — Então acho bom você mesmo levá-la.

4 — Sua mulher fica mal-humorada quando v. não quer levá-la
ao cinema?
SIM — Não dê importância. É melhor ficar mal-humorada antes de ir do que depois.
NÃO — Então você pode ir sozinho mesmo.

5 — Sua mulher insiste em ter filhos?
SIM — A insistência é uma qualidade. Só que às vezes essa qualidade pode gerar defeitos.
NÃO — Então por que v. não insiste?

6 — Sua mulher tem o hábito de adotar o provérbio “onde come um comem dois"?
SIM — Isso é indireta dela. Naturalmente está querendo que você jante com ela.
NÃO — Então... me retiro?

7 — Sua mulher acha que você é o sujeito mais fabuloso do mundo?
SIM — Mau sinal. Como é que ela sabe que os outros também não são fabulosos?
NÃO — Então, azar o seu: se ela não acha, quem é que vai achar?

8 — Sua mulher detesta os seus amigos?
SIM — Isso é uma espécie de represália feminina, pra ver se v. também passa a detestar as amigas dela.
NÃO — Então acho bom trocá-los por outros.

9 — Sua mulher desconfia de você quando está falando averdade?
SIM — Isso é normal. O que ela quer é detalhes. E é justamente nos detalhes que você deve mentir, senão ela continua desconfiando.
NÃO — Então me diga: ela é muda?

10 — Sua mulher não desconfia de você quando você está mentindo?
SIM — Sorte a sua. Não existem ainda médicos especialistas no tratamento do sexto sentido.
NÃO — Então continue mentindo.

11 — Sua mulher tem mania de lhe fazer surpresas?
SIM — Cuidado.
NÃO — Então quem vive surpreso é você.

12 — Sua mulher costuma lhe dar conselhos quando você está em alguma dificuldade?
SIM — Isso quer dizer que ela está querendo lhe meter em outra dificuldade.
NÃO — Então saia dessa, sozinho.

13 — Sua mulher se pinta demasiadamente?
SIM — Perdoe: esta é a chamada psicologia feminina. Ela só está querendo lhe agradar, sendo inteiramente "outra" para você.
NAO — Então ela não tem jeito mesmo, não é?

14 — Sua mulher vive implicando com você porque você não se lembra da data do seu (dela) aniversário?
SIM — Isso é um desabafo: a mulher não quer que ninguém saiba que ela também faz anos e como ela tem de fazer mesmo, descarrega em cima do marido.
NÃO — Então nem ela mais se lembra.

15 — Sua mulher resmunga o tempo todo quando você joga cinza no chão?
SIM — Isso é um enigma: ou ela quer que v. limpe o chão, ou quer que compre um cinzeiro ou quer que deixe de fumar.

NÃO — Então você não fuma.
16 — Sua mulher lhe amola a paciência dizendo quevocê ganha pouco?
SIM — Por falar nisso, por que v. não faz uma forcinha pra ganhar mais?
NÃO — Então v. não tem outra.

17 — Sua mulher passa o dia inteiro se queixando da empregada?
SIM — Isso é um sintoma de autodefesa. Evite ficar muito tempo na cozinha.
NÃO — Então você faz todo o serviço, hein?

18 — Sua mulher fica sem falar com você vários dias seguidos, depois de uma rusga?
SIM — Ah! entramos finalmente no capítulo do orgulho feminino. Aproveite bastante, amigo, enquanto durar.
NÃO — Então me diga uma coisa: Freud já está superado, não acha?

19 — Sua mulher não lhe perdoa o simples fato de você não recordar a data do seu casamento?
SIM — Positivamente, sua mulher é matematicamente romântica. A mulher só perdoa essa falta de memória se o presente, no dia seguinte, for compensador.
NÃO — Então, cá entre nós: você não é o primeiro. Ah, ééé??? Perdão.

20 — Sua mulher costuma dizer que você é o fim?
SIM — Depende do tom: se for o que eu penso, isto significa que ela é uma mulher de princípios.
NÃO — Então lhe pergunte agora.

P.S. — Se este pequeno questionário lhe ajudou em alguma coisa para que você conhecesse sua mulher, então fico satisfeito, porque — cá entre nós — já era tempo.



Todas retiradas da mesma fonte: O Homem ao quadrado. 2. ed. São Paulo: Cículo do Livro, 1975.

sábado, 20 de março de 2010

AS CRÔNICAS E O HUMOR

SOBRE O HUMOR

Humor:
1. líquido secretado pelo corpo e que era tido como determinante das condições físicas e mentais do indivíduo [Na Antiguidade Clássica contavam-se quatro humores: sangue, bile amarela, fleuma ou pituíta e bile negra ou atrabílis].
4. Derivação: por extensão de sentido: estado de espírito ou de ânimo; disposição, temperamento.
5. Derivação: por extensão de sentido: comicidade em geral; graça, jocosidade.
6. Expressão irônica e engenhosamente elaborada da realidade; espírito.
7. Derivação: por metonímia: faculdade de perceber ou expressar tal comicidade.

Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

  • Para o pensamento antigo, conforme a teoria dos humores, atribuída a Hipócrates (séc.V a.C.), havia quatro líquidos ou humores no corpo humano (sangue, bílis negra, bílis amarela e fleuma), relacionados aos quatro órgãos secretórios (coração, baço, fígado e cérebro) e aos quatro elementos cósmicos (ar, terra, fogo e água). O predomínio de um desses humores determinaria o temperamento de cada ser humano: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático.
  • No séc. XVIII, a palavra humor começou a ser utilizada na Inglaterra com o sentido geral que lhe atribuímos atualmente, opondo-se a wit – deliberado, cerebral, que não envolve emoções. Alguns críticos da literatura consideram que foi o humor inglês que deu densidade literária ao humor (a exemplo de Jonathan Swift, Henry Fielding, Laurence Sterne e James Boswell).
  • Hoje, no contexto literário, o humor é tomado como a capacidade de exprimir as excentricidades de determinada ação/situação sujeitas a provocar o riso. Entretanto, embora afirme ou denuncie aquilo que é potencialmente risível, o humor não é forçosamente alegre.
Fonte: Catarina de CASTRO. In: Carlos CEIA (Org.). Dicionário de Termos Literários
- Podemos considerar o Modernismo como responsável, no âmbito teórico, pela neutralização da carga negativa que, desde A Poética de Aristóteles, recaía sobre o humor.


- Na literatura, a opção pelo humor aparece como uma forma de expor certos aspectos da vida, seja porque são engraçados, contraditórios, inusitados, ou mesmo porque a forma de abordagem humorística ameniza temas mais dramáticos ou trágicos.

- Embora não haja uma forma preestabelecida para se conseguir o efeito do humor, alguns recursos de linguagem têm se mostrado eficientes: ironia; hipérbole; metáforas; metonímias etc.

- Para chegar a definições sobre o humor, os teóricos referem-se à utilização de certos recursos – como a sátira, a alegoria e a caricatura – criadores do efeito cômico.

- Cômico é “o que provoca o riso, ou a possibilidade de provocá-lo, através da resolução imprevista de uma tensão ou de um conflito” (ABBAGNANO. Dicionário de Filosofia, 2000, p. 153-154).

Alguns autores atribuem duas funções ao cômico: uma função moralística – “denunciar vícios, comportamentos reprováveis, desvios de ordem que o sistema social estabelece como valor inquestionável e, de tal forma, preparar explícita ou implicitamente sua repressão ou correção” – e uma função repressiva tradicional – “obrigar à inadequação, por estupidez ou loucura, a compartilhar dos pressupostos e das coordenadas mentais do grupo” (D´ANGELI; Paduano. O Cômico, 2007, p.9-10).

Outros autores consideram um viés ideológico no cômico: “provavelmente todas as piadas veiculam, além do sentido mais apreensível, uma ideologia, isto é, um discurso de mais difícil acesso ao leitor (POSSENTI. Os humores da língua, 2002, p.38).

As chamadas crônicas de humor nem sempre podem ser classificadas simplesmente pelo aspeto cômico. Há, em boa parte dessa produção, outros elementos como a crítica social/política, a melancolia, constatações sobre os dramas do cotidiano etc. Isso acaba configurando o humor mais como uma opção de tratamento do que como uma temática.




HUMOR - DEFINIÇÕES DO INDEFINÍVEL

- Nada mais humorístico do que o próprio humor, quando pretende definir-se (Friedrich Hebbel).
- Definir o humor é como pretender pregar a asa de uma borboleta usando como alfinete um poste de telégrafo (Enrique Jardiel Poncela).
- Humor é a maneira imprevisível, certa e filosófica de ver as coisas (Monteiro Lobato).
- O humorismo é o inverso da ironia (Bergson).
- O humorismo é o único momento sério e sobretudo sincero da nossa quotidiana mentira (G. D. Leoni).
- O humor é o açucar da vida. Mas quanta sacarina na praça! (Trilussa).
- O humor é o único meio de não sermos tomados a sério, mesmo quando dizemos coisas sérias: que é o ideal do escritor (M. Bontempelli).
- O humor compreende também o mau humor. O mau humor é que não compreende nada (Millôr Fernandes).
- O espírito ri das coisas. O humor ri com elas (Carlyle).
- A fonte secreta do humor não é a alegria, mas a mágoa, a aflição, o sofrimento. Não há humor no céu (Mark Twain).
- O humor é uma caricatura da tristeza (Pierre Daninos).
- O humor é a vitória de quem não quer concorrer (Millôr Fernandes).
- A própria essência do humor é a completa, a absoluta ausência do espírito moralizador. Interessa-lhe pouco a pregação doutrinal e a edificação pedagógica. O humor não castiga, não ensina, não edifica, não doutrina (Sud Menucci).
- O humorismo é dom do coração e não do espírito (L. Boerne).
- O humorismo é a arte de virar no avesso, repentinamente, o manto da aparência para por à mostra o forro da verdade (L. Folgore).
- O humor tem não só algo de liberador, análogo nisso ao espirituoso e ao cômico, mas também algo de sublime e elevado (Freud).
- Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer (Leon Eliachar).(*)
- O humorismo é a quintessência da seriedade (Millôr Fernandes).
- O humorista é um forte bom, vencido, mas sobranceiro à derrota (Alcides Maia).
- O humor é a polidez do desespero (Chris Marker).

(*) Definição laureada com o primeiro prêmio ("PALMA DE OURO") na IX Exposição Internacional de Humorismo realizada na Europa — Bordighera, Itália, 1956.

FONTE: BECKER, Idel (Org.). Humor e Humorismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1961, p.17. Disponível no site Releituras.

A CRÔNICA DE HUMOR
  • De um modo geral, esse tipo de crônica procura apresentar uma visão cômica de fatos.
  • Aborda quase sempre os costumes mais cotidianos, registrando-os de modo irônico.
  • Pode abordar qualquer tema, desde acontecimentos políticos a notícias esportivas. A estratégia é olhar esses fatos por um viés inusitado.
  • Há, na maioria das vezes, um final mais ou menos inesperado, como ocorre nas piadas.
  • Geralmente são textos mais curtos, não sendo isso, entretanto, uma regra.
Para Jorge de Sá, “a busca do pitoresco permite ao cronista captar o lado engraçado das coisas, fazendo do riso um jeito ameno de examinar determinadas contradições na sociedade (SÁ, 1999, p.23).



CRÔNICAS DE HUMOR

UM PLANO GENIAL
Barão de Itararé

Joaquim Rebolão estava desempregado e lutava com grandes dificuldades para se manter. A sua situação ainda mais se agravava pelo fato de ter que dar assistência a um filho, rapaz inexperiente que também estava no desvio.

Joaquim Rebolão, porém, defendia-se como um autêntico leão da Núbia, neste deserto de homens e idéias.

O seu cérebro, torturado pela miséria, era fértil e brilhante, engendrando planos verdadeiramente geniais, graça; aos quais sempre se saía galhardamente das aperturas diárias com que o destino cruel o torturava.

Naquele dia, o seu grude já estava garantido. Recebera convite para um banquete de cerimônia, em homenagem a um alto figurão que estava necessitando de claque. Mas o nosso herói não estava satisfeito, porque não conseguira um convite para o filho.

À hora marcada, porém, Rebolão, acompanhado do rapaz, dirige-se para o salão, onde se celebraria a cerimônia. Antes de penetrar no recinto, diz a seu filho faminto:

— Fica firme aqui na porta um momento, porque preciso dar um jeito a fim de que tu também tomes parte no festim. Já estavam todos os convidados sentados nos respectivos lugares, na grande mesa em forma de ferradura, quando, ao começar o bródio, Rebolão se levanta e exclama:

— Senhores, em vista da ausência do Sr. Vigário nesta festa, tomo a liberdade de benzer a mesa. Em nome do Padre e do Espírito Santo!

— E o filho? — perguntou-lhe um dos convivas.

— Está na porta — responde prontamente. E, voltando-se para o rapaz, ordena, autoritário e enérgico:

— Entra de uma vez, menino! Não vês que estes senhores te estão chamando?

Fonte: Máximas e Mínimas do Barão de Itararé. Rio de Janeiro: Record, 1985, p.40.

A VELHINHA CONTRABANDISTA
Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto)

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.

- Juro - respondeu o fiscal.

- É lambreta.

Fonte: Gol de padre. 7.ed. São Paulo: Ática, 2003. (Coleção Para Gostar de Ler, n.23).

sexta-feira, 19 de março de 2010

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Conforme já combinado em sala, nossa produção de crônicas obedecerá a uma tipologia simples, definida a partir dos critérios: modo/forma de abordagem e tema.

Serão dois blocos de cinco crônicas, cada uma valendo 1,0 ponto.

1º BLOCO (equivalente ao primeiro bimestre):
Produção por modo/forma de abordagem

1) Ação
2) Reflexão
3) Humor
4) Carta
5) Lista

2º BLOCO (segundo bimestre):
Produção por tema

1) Política
2) Futebol
3) Amor
4) Morte
5) Tema livre

quinta-feira, 4 de março de 2010

A CRÔNICA NO JORNAL

REFERÊNCIAS

BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Opinativo. Porto Alegre: Sulina, 1980.
CANDIDO, Antonio et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. São Paulo; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: relações e perspectivas. Rio de Janeiro: Global, 1999.
MOISÉS, Massaud. A criação literária -prosa II. 17. ed. São Paulo: Cultrix, 2001.
SÁ, Jorge de. A crônica. 6. ed. São Paulo: Ática, 1999.
TEIXEIRA, Tatiana. A crônica política no Brasil: um estudo das características e dos aspectos históricos a partir da obra de Machado de Assis, Carlos Heitor Cony e Luis Fernando Veríssimo. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/teixeira-tattiana-cronica-politica-Brasil.pdf. Acesso em: fev.2009.
SIMON, Luiz Carlos Santos. Do jornal ao livro: a trajetória da crônica entre a polêmica e o sucesso. Revista Temas & Matizes, n.5. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, primeiro semestre de 2004.

De um modo eral, os estudiosos do tema assinalam que, no Brasil, a história da crônica está intimamente ligada à propria história do desenvolvimento do jornalismo. Antonio Candido considera a crônica como "filha do jornal e da era da máquina" (1992, p.14).Para Teixeira,

“A história da crônica no Brasil se confunde com a própria trajetória do jornalismo contemporâneo. Vinculada ao entretenimento - de um modo geral - ela começou a consolidar-se no país em meados do século XIX e, desde então, tornou-se um gênero quase obrigatório para os jornais brasileiros”.

A autora comenta ainda que, se procedermos a um rápido panorama dos principais veículos nacionais da época, veremos que "os de maior tiragem e alcance contam com cronistas em seus quadros, senão diária, ao menos semanalmente".

  • "Ligado, em sua gênese, ao folhetim - compreendido aqui não como o romance, mas como o espaço plural que abrigava uma série de textos voltados ao entretenimento - o termo crônica, durante este período, esteve associado a escritos sobre os mais variados assuntos, da política ao teatro, dos eventos sociais aos esportivos, dos acontecimentos do dia-a-dia ao universo íntimo de cada autor.”
Quanto à pluralidade de temas tratados pela crônica "- que se explica historicamente, talvez, pelo fato de terem sido freqüentemente publicados no espaço destinado às variedades -", Teixeira assinala que isso contribuiu, por um lado, para que diversos autores pudessem exercitar a abordagem de uma temática mais ampla; por outro lado, entretanto, pode ser apontado como "fator preponderante para a falta de uma melhor definição, compreensão e valorização do gênero ao longo de sua história".

De fato, no campo dos estudos literários, o gênero crônica carrega sempre uma somra de "gênero menor", ainda que, paradoxalmente, muitos dos nossos grandes romancistas sejam também grandes cronistas.

Isso não quer dizer que não haja nenhum estudo sobre o gênero. Ocorre apenas que, de um modo geral, esses estudos costumam tratar a crônica com um certo preconceito. Um exemplo:

Em A criação literária, na seção que trata do gênero conto, Massaud Moisés assinala que:

"O contista experimentado sabe como principiar, cônscio de que as linhas de abertura condicionam tudo o mais. Nisso, como em outros pormenores técnicos, ele depara obstáculos diversos dos que assaltam novelistas e romancistas. Pela extensão de páginas, sinal concreto de sua peculiar estrutura, a novela e o romance enfrentam o problema do epílogo: ao passo que o contista há de saber como principiar, o romancista e o novelista preocupam-se com o desfecho. Um romance ou uma novela pode encetar-se com páginas de minúcias preparatórias da ação - como, por exemplo, em Guerra e Paz ou nOs Maias -, para aos poucos ir ganhando densidade e temperatura. Ao invés, espera-se que o conto envolva de imediato o leitor, ainda quando abre com um longo preâmbulo, como se ante um flagrante do dia-a-dia, rápido em configurar-se e rápido em definirse e terminar".

A seguir, o autor comenta:

"É de notar que o mau emprego, assim como o dúbio entendimento, da teoria de Tchecov, notadamente no que diz respeito ao epílogo, aliaram-se na modernidade à idéia de que o conto pode prescindir do enredo. Induzidos por esses princípios, não poucos autores e críticos entraram a chamar de conto, erroneamente, textos que não passavam de crônica, capítulo ou germe de romance" (o grifo é meu).

Ainda nessa obra, Moisés deixa claro que não vê com bons olhos a publicação de crônicas em livro, argumentando que o gênero perde a fugacidade mais própria ao meio jornal. Para ele,

"Mais do que o poema, a crônica perde quando lida em série; reclama a degustação autônoma, uma a uma, como se o imprevisto fizesse parte de sua natureza, e o imprevisto colhido na efemeridade do jornal, não na permanência do livro. Eis porque raras crônicas suportam releitura; é preciso que ocorra o encontro feliz entre o motivo da crônica e algo da sensibilidade do escritor à espera do chamado para vir à superfície".

Outros críticos, como Eduardo Portella, discordariam, mais tarde, desse posicionamento. Para Portella, a publicação em livro contribuiu para a constituição da crônica como gênero literário específico e autônomo.



É exatamente sobre essas questões que trata Luiz carlos S. Simon, no artigo Do jornal ao livro: a trajetória da crônica entre a polêmica e o sucesso.

Simon (que é estudiodo da área da literatura) abre seu texto assinalando que

"O estudo da crônica na qualidade de um texto literário esbarra, logo nas páginas iniciais de qualquer ensaio sobre o assunto, na controvérsia gerada por seu veículo de origem: o jornal. Não que professores de literatura, jornalistas, críticos literários e teóricos julguem de antemão que o fato de serem as crônicas publicadas antes em jornais deverá necessariamente privá-las de um estatuto artístico, mas esta peculiaridade no trajeto da crônica parece requerer dos estudiosos a lembrança inevitável deste vínculo que a situa num espaço intermediário, de caracterização diferenciada".

Polêmicas à parte, o fato é que Massaud Moisés dedicou algumas reflexões sobre o gênero. É dele uma das tentativas de estabelecimento de uma tipologia para a crônica. Para o autor, as crônicas se dividem em dois tipos: crônica-poema e crônica-conto. Ele chama de "pseudocrônicas" os textos que se aproximam mais de ensaios ou da prosa didática, nos quais idéia prevalece sobre a sensação e a emoção.

(Não custa ressaltar que, nessa divisão, Moisés usa gêneros já consagrados no estudos literários - poema e conto - como matrizes para a definição dos tipos de crônicas).

Em A literatura no Brasil – relações e perspectivas. Afrânio Coutinho propôs outra tipologia, considerando cinco tipos: a crônica narrativa; a crônica metafísica; a crônica poema-em-prosa; a crônica comentário; a crônica-informação.

O problema dessa tipologia (como der esto acontece com qualquer tipologia) reside na confusão dos critérios utilizados: nada impede, por exemplo, que uma crônica de abordagem mais "metafísica" (para usar a expressão do autor) seja estruturada, por exemplo, como um poema.

Em Jornalismo opinativo, Luis Beltrão (que definiu a crônica como “a forma de expressão do jornalista/escritor para transmitir ao leitor seu juízo sobre fatos, idéias e estados psicológicos pessoais e coletivos") apresenta uma nova tipologia, propondo a divisão do gênero em dois grandes grupos, subdivididos:
  • o primeiro se refere à natureza do assunto abordado e subdivide-se em geral, local e especializada;
  • o segundo se refere ao tratamento dado ao tema, subdividindo-se nas categorias analítica, sentimental e satírico-humorística.
Para o funcionamento do nosso curso, usarei uma tipologia simples, que não pretende estabelecer nenhuma teoria sobre o gênero, mas simplesmente organizar nossas produções. Confiram no próximo post.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O TEXTO OPINATIVO EM JORNALISMO

TIPOLOGIA TEXTUAL DE CUNHO OPINATIVO EM JORNALISMO


REFERÊNCIAS:


MELO, Jose Marques de. Jornalismo Opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3. ed. Campos de Jordão, RJ: Editora Mantiqueira, 2003.

MORAES, Jorge Viana de. Limites entre jornalismo e literatura. Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação, 2008.

CAMPO, Pedro Celso. Gênero opinativo. Observatório da Imprensa. Dispoível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/da010520026.htm>. Acesso em jan.2010.

Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa (versão online). Dispoível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm> . Acesso em jan.2010.

SOBRE O TEXTO OPINATIVO

"Muito antes de ser informativo ou interpretativo o jornalismo foi opinativo, como se via no panfletismo ideológico da Revolução Francesa. Na segunda metade do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, o atual jornalismo empresarial dos EUA não destoava de escolas jornalísticas da época, como a francesa e a inglesa: praticava-se um jornalismo muito mais opinativo e tendencioso do que informativo. O veículo era usado apenas para manipular os fatos de acordo com os interesses do grupo ou da família proprietária do jornal – o que ainda ocorre, em pleno alvorecer do Terceiro Milênio, em muitas cidades do interior do Brasil, como verificam os próprios estudantes de Jornalismo.
[...]
Nos anos 30, com o bom êxito do jornalismo interpretativo nascente, os dirigentes de jornais observaram que tinham em mãos um negócio de futuro. Assim, os jornais foram se profissionalizando e se organizando em empresas bem-estruturadas.

Cada gênero passou a ter sua valorização específica. A notícia ganhou formato de indagação imparcial sobre os fatos, condensando no lead tudo o que era preciso para prender a atenção do leitor interessado na informação. A reportagem mais profunda procurava interpretar a realidade consultando especialistas nos assuntos tratados e esclarecendo as origens, as circunstâncias e as conseqüências do fato.

[...]
O opinativo ganhou a página dois para o editorial da empresa, além de artigos assinados. Colunas e demais textos assinados, em todo o jornal, revelam a característica de um texto voltado para a persuasão opinativa. As próprias agências passaram a enviar despachos devidamente assinados pelos seus melhores repórteres. Os jornais distribuíram correspondentes, que passaram a enviar matérias opinativas" (CAMPO).

Em Jornalismo Opinativo, José Marques de Melo assinala que há dois núcleos de interesse em torno dos quais o discurso jornalístico se articula:

a) A informação, cujo interesse é saber o que se passa.
b) A opinião, cujo interesse é saber o que se pensa sobre o que se passa.

Segundo o autor, os gêneros do primeiro núcleo (universo da informação) “se estruturam a partir de um referencial exterior à Instituição Jornalística: sua expressão depende diretamente da eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais (jornalistas) estabelecem com seus protagonistas (personalidades ou organizações)”. (2003, p.65).

Melo define a tipologia do jornalismo informativo a partir de quatro gêneros: nota, notícia, reportagem e entrevista.

Quanto aos gêneros situados no segundo núcleo (universo da opinião), a estrutura da mensagem é “co-determinada por variáveis controladas pela instituição jornalística. Assumem duas feições: autoria (quem emite a opinião) e angulagem (perspectiva temporal ou espacial que dá sentido à opinião)” (2003, p.65).

No âmbito do jornalismo opinativo, o autor concebe uma tipologia de oito gêneros de texto: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura, carta.

A) OS TIPOS DE TEXTOS OPINATIVOS:

Editorial: gênero que expressa a opinião institucional e apócrifa (sem assinatura individual) do jornal. Trata-se de um gênero jornalístico que expressa a opinião oficial do jornal em relação aos fatos mais relevantes no momento.

Comentário: gênero introduzido recentemente no jornalismo brasileiro, diante das mudanças decorridas da maior rapidez na divulgação das notícias (primeiramente pelo rádio e pela televisão). Segundo Melo, o comentário mantém uma íntima ligação com a atualidade, e é produzido a partir do que está ocorrendo. O comentário acompanha a própria notícia.

Artigo: texto opinativo (mais que informativo) publicado em seção destacada do conteúdo noticioso, para enfatizar sua natureza “não-jornalística”. Os autores recorrentes de artigos são chamados de articulistas. Apresenta-se como colaboração espontânea ou solicitação não necessariamente remunerada, o que confere liberdade completa ao seu autor. “Trata-se de liberdade em relação ao tema, ao juízo de valor emitido, e também em relação ao modo de expressão verbal” (MELO, 2003, p.125).

Resenha: gênero textual em que se propõe a construção de relações entre as propriedades de um objeto analisado, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes sobre ele. No jornalismo, é utilizado como forma de prestação de serviço.

Coluna: surgiu na imprensa norte-americana, em meados do século XIX, quando os jornais assumiram o caráter informativo. O nome vem da diagramação original dos textos não-noticiosos publicados regularmente em espaço predeterminado no jornal. Nos periódicos do século XIX, tudo que não era notícia era diagramado numa única coluna vertical, de alto a baixo da página, à parte do resto do conteúdo (exceto pelos folhetins, que eram publicados geralmente na parte inferior da primeira página, ocupando todas as colunas da esquerda até a direita. Mesmo depois de de assumir qualquer formato, a coluna se mantém com informações curtas, em notas, ou observações do cotidiano, em linguagem de crônica. Cumpre hoje uma função que foi peculiar ao jornalismo impresso antes do aparecimento do rádio e da televisão: o furo.

Caricatura (eu prefiro o termo charge): comentário visual dos fatos, caricatura política ou de personagens do noticiário.


Carta: texto produzido pelo leitor, inteiramente independente da linha editorial do jornal. Normalmente corresponde a comentários sobre edições anteriores do veículo, embora não se limite a esse fim.

A CRÔNICA


“Rubrica: história.
Compilação de fatos históricos apresentados segundo a ordem de sucessão no tempo [Originalmente a crônica limitava-se a relatos verídicos e nobres; entretanto, grandes escritores a partir do sXIX passam a cultivá-la, refletindo, com argúcia e oportunismo, a vida social, a política, os costumes, o cotidiano etc. do seu tempo em livros, jornais e folhetins.]” Fonte: Dicionário HOUAISS

ORIGEM DO TERMO

A palavra crônica deriva do Latim chronica que significava, no início da Era Cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris.

“A abordagem da crônica como um gênero específico de texto leva a destacar algumas acepções mais utilizadas por pesquisadores:

  • narração histórica ou registro de fatos comuns em ordem cronológica;
  • texto jornalístico de forma livre e pessoal e que tem, como tema, fatos ou idéias da atualidade; esses fatos podem ser de teor artístico, político, esportivo, etc.; ou simplesmente relativos à vida cotidiana;
  • no sentido histórico do termo, A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada crônica pelos historiadores. E, como ela, aconteceram outros relatos de cronistas que davam notícias da nova terra aos europeus;
  • é importante ressaltar que esse conceito antigo de crônica como registro de fatos históricos continuou com o advento da literatura jornalística.” (MORAES, 2008).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

PROGRAMA DO CURSO

PLANO DE CURSO 2009.1

CURSO: Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo
DISCIPLINA: Leitura e produção da crônica em jornalismo CARGA HORÁRIA:
PROFESSOR: Adriana Telles

EMENTA
: Estudo da tipologia textual de cunho opinativo no jornalismo. Especificidades das variações do discurso jornalístico no texto opinativo. Estilo, linguagem e redação de crônicas. Estudo da charge como crônica política.

OBJETIVOS:
Ao final do curso o aluno deverá:

- Reconhecer os diferentes tipos de textos jornalísticos de cunho opinativo.
- Perceber a importância do texto opinativo no contexto do discurso jornalístico.
- Desenvolver habilidades para a leitura e a produção de crônicas.
- Analisar e produzir crônicas.
- Utilizar adequadamente as variantes da linguagem da crônica.
- Identificar os elementos discursivos da charge.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

Unidade I:
– A tipologia textual de cunho opinativo e jornalismo:
O artigo, a resenha, a coluna, o editorial, crônica e a charge.
Elementos para a leitura da crônica.
Linguagem, Língua e Fala: conceitos a partir das perspectivas da teoria da comunicação e da lingüística textual.

– A crônica como narrativa do cotidiano:
As origens da crônica; a produção de crônicas no séc. XIX, no século XX e na contemporaneidade.
Os modos de organização narrativo, descritivo e dissertativo da crônica.
Estudo de cronistas brasileiros.

UNIDADE II:
– Subtipologia da crônica:
A crônica de humor.
A crônica poética.
A crônica política.
A crônica esportiva.
A crônica social.
A crônica policial.

– A crônica visual: as charges
Elementos para a leitura da charge.
Estudo de chargistas brasileiros.
Recursos estilísticos para a construção humor no discurso da charge.
Charge e crônica escrita: semelhanças e diferenças discursivas.

REFERÊNCIAS:
BÁSICAS:
SÁ, Jorge de. A crônica. 6. ed. São Paulo: Ática, 1999.
MELO, José Marques de. A crônica como gênero jornalístico. In: Teoria do Jornalismo: identidades brasileiras. São Paulo: Paulus, 2006.
CANDIDO, Antonio et. al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. São Paulo; Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.

COMPLEMENTARES:

BELTRÃO, Luis. Jornalismo opinativo. Porto Alegre (RS): Ed. Sulina, 1980.
BENDER, Flora; LAURITO, Ilka. Crônica - história, teoria e prática. São Paulo: Editora Scipione, 1993. (Col. Margens do Texto).
CHALHOUB, Sidney; NEVES, Margarida; PEREIRA, Leonardo Affonso de. História em cousa miúda: capítulos de história social da crônica no Brasil. Campinas: Ed. Unicamp, 2005.
FERRAZ, Geraldo Galvão. A escrita de uma crônica. Revista Língua Portuguesa. Ano 2, n. 20, p. 38-39. São Paulo, jun, 2007.
FORTUNA. Aberto para balanço: 95 charges do Correio da Manhã (1965-1966). Rio de Janeiro: Codecri, 1980.
MEDEIROS, Vanise Gomes de. Discurso Cronístico: uma falha no ritual jornalístico. Disponível em: .
OLIVEIRA, Claudio de. Pizzaria Brasil: da Abertura Política à reeleição de Lula. São Paulo: Devir, 2007.
ROMUALDO, Edson Carlos. Charge jornalística: intertextualidade e polifonia – um estudo das charges da Folha de S. Paulo. Maringá: Eduem, 2000.
ROSSETTI, Regina; VARGAS, Herom. A recriação da realidade na crônica jornalística brasileira. UNIrevista. São Paulo: Vol. 1, n. 3, jul, 2006. Disponível em: .
SIMON, Luiz Carlos Santos. Do jornal ao livro: a trajetória da crônica entre a polêmica e o sucesso. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/temasematizes/article/viewPDFInterstitial/554/465
SIMON, Luiz Carlos Santos. O cotidiano encadernado: a crônica no livro. Disponível em: .

– Compilação de crônicas e charges disponibilizadas pelo professor.